
Açores, Cabo Verde e Moçambique: vencedoras e vencedor do Orçamento Participativo CE3C 2025 irão abordar ecossistemas e espécies do Atlântico ao Índico. Eis os seus projetos:

Escutar ao fim e ao Cabo
Nadito Barbosa, doutorando no primeiro ano do programa BIODIV – ao abrigo do Consórcio de Escolas de Ciências Naturais e Biodiversidade (CEBiCNa) – e membro do grupo em Ecologia Comportamental e Conservação, está a explorar o potencial da monitorização acústica no estudo da biodiversidade de Cabo Verde.
Com o apoio do Orçamento Participativo CE3C 2025, Nadito irá realizar uma segunda campanha de campo entre novembro e dezembro de 2025, depois da estação das chuvas, para a deteção de aves e morcegos em todas as ilhas do arquipélago. A captação dos sons da paisagem será feita com recurso a gravadores automáticos distribuídos numa grelha uniforme, seguida da sua análise com recurso a algoritmos de machine learning que permitem avaliar a sua composição e identificar espécies. Entre os objetivos globais do estudo, destacam-se a caracterização da fenologia da criticamente ameaçada garça-vermelha (Ardea purpurea) e o levantamento da distribuição de espécies exóticas como o macaco-vervet (Cercopithecus aethiops) e o sapo-comum-africano (Sclerophrys regularis).
O que significa machine learning? Machine learning é um método de análise de dados que permite identificar padrões em grandes conjuntos de informação de grande dimensão e complexidade. Enquanto ramo da inteligência artificial, procura facilitar a integração de conhecimento e automatizar a construção de modelos mais robustos, permitindo paralelamente otimizar o tempo de intervenção humana.
O trabalho encontra-se enquadrado numa iniciativa nacional mais ampla — o Primeiro Atlas de Aves Nidificantes de Cabo Verde — e conta com a participação de várias ONG cabo-verdianas. A sua implementação vem dar continuidade à investigação levada a cabo pelo seu orientador no CE3C, Ricardo Jorge Lopes.

O que agarra o cagarro
De origem belga, Laurine Parmentier cruzou o Atlântico para abraçar o arquipélago dos Açores e a sua biodiversidade. Após uma temporada de trabalho em projetos associados à entomofauna local, redirecionou o seu foco para a conservação de uma espécie emblemática da região – o cagarro (Calonectris borealis). Doutoranda no primeiro ano do Doutoramento em Gestão Interdisciplinar da Paisagem na Universidade dos Açores – coordenado pelo investigador CE3C Paulo A. V. Borges –, procura perceber como estão as pressões antropogénicas sobre as áreas de nidificação da espécie a impactar o seu sucesso reprodutivo.
Graças ao apoio do Orçamento Participativo CE3C 2025, a exposição do cagarro a ameaças como a introdução de predadores invasores (nomeadamente ratos e gatos), alterações no habitat e vulnerabilidade perante os efeitos das alterações climáticas será determinada por Laurine ao longo de duas épocas de reprodução. Para tal, serão visitadas regularmente as cavidades ocupadas pelas colónias da espécie nas ilhas Terceira, Pico, Faial e no ilhéu da Praia, na Ilha Graciosa, combinado este esforço de amostragem com armadilhagem fotográfica e a utilização de sensores que permitirão acompanhar a variação da humidade e temperatura nos várias locais.
Laurine é membro do grupo de investigação em Biodiversidade, Biogeografia & Conservação em Ilhas e o seu trabalho conta com a orientação dos investigadores CE3C Paulo A. V. Borges e Guilherme Oyarzabal.

O manancial de funções do mangal
O ecossistema de mangal desempenha um papel essencial na integridade do litoral e no suporte a comunidades costeiras distribuídas em várias regiões da faixa tropical e subtropical do mundo. Do ponto de vista ambiental, destaca-se a sua função enquanto reduto de biodiversidade e de berçário para várias espécies de peixe, mas também a captação e armazenamento de carbono associada à sua elevada produtividade.
A doutoranda CE3C Fátima Inácio da Costa irá analisar o impacto ecológico do restauro dos mangais da região centro de Moçambique, comparando áreas onde as florestas se encontram em estado natural, degradado e em processo de recuperação. O estudo será desenvolvido com o apoio do Orçamento Participativo CE3C 2025 e associará várias metodologias como a análise da biomassa vegetal das árvores, mas também a reconstrução das cadeias tróficas com base nos dados fornecidos pela análise dos isótopos estáveis de diferentes organismos, incluindo de caranguejos, gastrópodes e peixes.
O que são isótopos estáveis? Os isótopos estáveis são variações de um mesmo elemento químico - como o carbono, hidrogénio ou o oxigénio - que não se alteram com o tempo. Esta estabilidade confere-lhes uma importante função enquanto marcadores naturais, permitindo traçar o seu movimento ao longo de diferentes processos, como o ciclo dos nutrientes, os movimentos de matéria dentro de uma planta, ou as relações estabelecidas entre os vários organismos que compõem uma cadeia trófica.
Fátima Inácio da Costa encontra-se inscrita programa doutoral BIODIV, ao abrigo do CEBiCNa. O seu projeto de doutoramento é orientado pelo investigador CE3C Luís Catarino, no grupo de investigação em Plantas e Sistemas Tropicais.
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