Ana Cláudia Oliveira, recém-doutorada do grupo de investigação em Ecologia das Alterações Ambientais do cE3c (eChanges), foi galardoada com o Prémio Mário Quartin Graça, atribuído pela Casa da América Latina e pelo Banco Santander. Hoje, data da entrega oficial do Prémio, celebramos, uma vez mais, esta conquista e revelamos um pouco mais acerca do seu trabalho e da sua experiência no cE3c.
A sua tese “Ecological indicators as tolls to monitor the effects of climate change on Tropical dry forest” foi orientada pela investigadora cE3c Cristina Branquinho e por Renato García, Professor da Universidade Federal do Vale de São Francisco, no Brasil.
Que projecto desenvolveste no teu doutoramento?
Durante o doutoramento desenvolvi um projeto que teve como objetivo utilizar indicadores ecológicos, nomeadamente a diversidade da biodiversidade (diversidade taxonomica e funcional), como ferramenta para monitorizar e consequentemente prever de forma precoce os impactos climáticos sobre o ecossistema, nomeadamente os aspetos relacionados com a desertificação na floresta seca do Nordeste do Brasil, chamada de Caatinga.
Porque escolheste esta área de investigação?
Essa escolha surgiu no contexto da minha ambição em compreender e ampliar o conhecimento das plantas nativas do Brasil, desde indivíduos a comunidades, e agora, do ponto de vista do ecossistema. Iniciei minha graduação com o exercício da identificação das plantas, passando pela avaliação da composição e da diversidade taxonómica em florestas brasileiras. No mestrado, incorporei as questões estruturais (fitossociologia) e biogeográficas. Finalmente, no doutorado escolhi explorar o entendimento funcional de comunidades vegetais, lhe associando à questão da crise climática.
Qual a importância da tua questão científica e quais os resultados que destacas?
Estamos vivenciando os impactos climáticos e poder prevê-los é a melhor forma para atuarmos de forma planejada e, consequentemente, obtermos resultados positivos. Em suma, os resultados de meu doutoramento destacam que o aumento da aridez (um proxy/representante das alterações climáticas) pode levar a comunidades menos resilientes às alterações climáticas. Isso porque o aumento da aridez poderá reduzir a diversidade de espécies de plantas, essas serão representadas por funções únicas ou com baixa redundância funcional entre elas, o que aumenta as chances de perda de funções-chave do ecossistema. Considerando esses resultados, podemos adotar medidas preventivas oportunas (por exemplo, a conservação de florestas remanescentes) e ações de restauração ecológica (por exemplo, a introdução de espécies com características funcionais específicas tal como dispersão de frutos via animais).
O teu doutoramento foi repartido entre Portugal e o Brasil. O que realças desta experiência? Quais os maiores contrastes e similaridades?
No contexto da tese, eu ressalto o contraste entre escalas de estudo. No Brasil, nossa escala de estudo foi muito superior à de Portugal. Lá, tivemos a oportunidade de avaliar ao longo de 700 km, a resposta das métricas da diversidade em comunidades de plantas distribuídas desde o extremo semiárido (quase limite com áreas áridas) até o extremo subúmido seco. Apesar do contraste da escala estudo e das variações fitofisionômicas da floresta tropical seca (no Brasil) e o montado, nós podemos encontrar padrões de respostas similares. Todavia, nós ainda estamos aprofundando as análises no contexto dos padrões de respostas entre os dois ecossistemas.
Após o doutoramento, continuas na mesma linha de investigação? Que trabalho estás a desenvolver agora?
Atualmente sou colaboradora externa do cE3c e estou a terminar uma publicação ainda associada à tese de doutoramento. Embora nesta fase esteja a dar apoio à família, uma vez que me tornei mãe recentemente.
O que significa para ti receber esta distinção?
Esse prémio representa o reconhecimento de um trabalho que sempre quis fazer, associado à minha terra e gratidão, pois foi um projeto que contou com a ajuda de muitas pessoas.
Desenvolver um doutoramento é curva de aprendizagem longa e árdua. Qual foi a tua experiência no cE3c? Qual a dinâmica que encontraste e que memórias levas do cE3c?
O cE3c me proporcionou um convívio com grupos de estudos interdisciplinares e pessoas de várias nacionalidades. Essa dinâmica interdisciplinar e multicultural são aprendizados que estão englobados de forma oculta numa tese, mas no crescimento pessoal, ela é latente. Então, só tenho que agradecer ao cE3c, especialmente ao grupo eChanges.
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