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O conceito “Uma só Saúde” foi introduzido em 2000 para introduzir algo já compreendido há muito: a saúde humana e animal são interdependentes e ligadas aos ecossistemas onde existem. Em 2015, a Fundação Rockefeller lançou o conceito mais abrangente de “Saúde Planetária” para referir o facto de a saúde humana não poder estar desfasada da qualidade dos sistemas naturais de que depende. Após a pandemia do SARS-Cov2 (2020-2022), este conceito adquiriu maior importância em resultado das alterações que o Homem tem infringido na estrutura, dinâmica e funcionalidade dos ecossistemas. 

As sucessivas alterações da paisagem, por desflorestação, fogo ou pastoreio intensivo, originam contactos mais estreitos entre a fauna selvagem e doméstica, permitindo o contacto e contaminação por zoonoses responsáveis por cerca de 60% das infecções e doenças em humanos. O pastoreio e cultivos intensivos, para além de obrigar a desflorestações, estão dependentes de um elevado consumo de água e provocam a contaminação com fezes e urina carregados de antibióticos e compostos azotados. A economia global facilita a troca de produtos internacionais, a dispersão de espécies invasoras e acelera a forte dependência de uso de materiais de plástico para facilitar o acondicionamento dos produtos. Em suma, estas são condições ideais para a transmissão e dispersão de doenças entre animais e pessoas, e entre regiões. 

Qual o contributo dos ecólogos para a compreensão de todos estes fenómenos que colocam o Homem e o Planeta perante diferentes riscos globais? Como integrar o conhecimento das comunidades biológicas e do seu funcionamento no desenvolvimento de soluções para minimizar os riscos que estamos a gerar? Tal como tem sido a praxis dos ENEs anteriores, pretende-se discutir temas relevantes de investigação ao serviço da sociedade, sem abdicar do foco principal: não há estratégias eficientes e efectivas sem bases científicas sólidas. 

Também este ENE pretende organizar uma mesa redonda moderada por um jornalista. Numa altura em que a Universidade de Lisboa lança um doutoramento em Estudos em Saúde Planetária, o debate centrar-se-á nos desafios interdisciplinares que este tópico gera, numa interacção desafiadora entre Ecologia, Medicina e Economia Social.  

Num ano em que a SPECO assinala os seus 30 anos de existência tendo, desde sempre, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa como instituição acolhedora, o 24º ENE só poderia ser celebrado neste local. Neste espaço de eleição, onde a investigação científica fundamental e aplicada são valorizadas e incentivadas, o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C), o Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade (CHANGE) e o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) recebem-nos e acolhem-nos, graças à hospitalidade e disponibilidade da Faculdade de Ciências.